quinta-feira, 14 de junho de 2018

Mulher do Fado
 
























Trago em mim a angústia da saudade.
Não se vai e descansa no meu peito.
Eterna e soberana condição não saber da tua sorte .
Que em mim é inveja de não a ter mesmo assim:
Liberta, descarada e sem saber de mim.
Trago em mim o olhar e o sorriso
em laivos de pensamento.
Esbatido mas claro como a noite iluminada de lua cheia
 Fala-me  de ti que eu vou sabendo
acalmar a minha dor.
Dia após dia espero-te no mesmo cais.
Como a mulher do Fado.
De preto.
Confiante.
Cantando ao vento o teu retorno



segunda-feira, 4 de junho de 2018

Sou apenas eu.
Não mais nem menos que tu.
Tenho muitos nomes e nome nenhum.



























Caio tantas vezes como me levanto e ando em frente.
Pensei ser tudo o mais que não consigo ser, e afinal somos tanto.
Não olho para trás mas sei que estás aí.
A tristeza, o desengano, as falhas , o medo.
Sou menos e mais. Menos perfeita, mais real.
Sou inteira de tudo o que me fez cair ou vencer.
As folhas também são viçosas e caem.
Vem sempre a primavera. Nada a temer.
Sou apenas eu, que não sei ser de outra forma senão sentimento.
E o amor que é imperador, esse malvado!
Já não sei de onde vem o meu canto.
Fez-se independente de mim e tem vontade própria.
Agora caminhamos lado a lado.
Tenho de dar-lhe a mão, fazer as pazes e ir caminhando que o amor é já ali , no fim de tudo.
YS





                       Gente com mais


Caminhos difíceis não são para todos.
E alguns fazem-no facilmente.
Mesmo que difíceis se repitam . Serão gente?

As lágrimas são de gente decente.
Que almeja o mesmo destino,
daquilo que em nós é presente. Serão gente?

Não me conformo com muito.
Nem com pouco me aguento.
É que se sente a dor de ter.
Mas sente-se a dor de não ter.
Serei gente?

Damos mas não o fazemos.
Falamos mas não o dizemos.
Choramos mas não sabemos que
o nosso lugar é diferente.
Seremos gente?

O problema é que somos gente.
E isso dói mais. 
Sabermos que somos gente e nada mais.
Podemos tudo, se quisermos, e nada também podemos .

A escolha faz-nos ser diferentes e talvez ser mais que gente, continuando a ser apenas gente com mais.